Batalha dos Aflitos: cinco anos depois

MILAGRE! INACREDITÁVEL!... são essas as palavras que vêm à cabeça quando lembro daquele 26/11/2005. Depois de passar pela segunda vez pela série B, o Grêmio, de forma dramática, carimbava seu passaporte de volta para a elite do futebol da terra brasilis. O feito alcançado com 7 homens em campo contra uma pocilga de estádio, um árbitro incompetente e dois pênaltis contra, ganhou ares de conquista de Libertadores, tamanho seu peso naquele momento da história Tricolor. Desde então, com toda a justiça, nunca mais duvidaram do Grêmio e de sua imortalidade.

Embora este tenha sido um momento significativo da história Tricolor, o que me faz lembrar desta data não foi a euforia da volta à série A mas sim os motivos que nos fizeram passar por todo o martírio no ano de 2005. Ouvindo relatos de tantas pessoas que estavam vivendo e respirando o Grêmio naquela época, pude chegar a simples conclusão de que o excesso de politicagem rasteira disfarçada de política e a falta de profissionalização das gestões foram fatores que influenciaram diretamente para o momento negativo do clube.

Futebol hoje é negócio e os clubes empresas. Como todos os mercados do mundo, o do futebol também evoluiu. Em função disto, era necessária uma mudança na mentalidade administrativa dos clubes para acompanhar esta evolução mercadológica. Restava aos clubes se adequar a isto ou seguir no modelo "antigo" e, a partir de então, incerto de gestão. Muitos clubes entenderam o recado e começaram a se preparar para isto (temos vários exemplos, sendo alguns deles bem perto) enquanto outros clubes continuaram seguindo a velha receita da vovó. Neste ponto da história, os caciques do Grêmio pensavam que o clube poderia sobreviver às mudanças do mercado com a continuidade de seu oligopólio. O resto da história todo mundo já sabe...

Desde a volta à série A, muitos passos foram dados para que o Grêmio evoluísse e profisisonalizasse sua gestão. Mesmo assim, em todas as administrações pós Batalha dos Aflitos, ainda se vê com clareza a batalha de egos travada entre Gremistas ilustres e o ranço político de grupos que parecem quererem ser maiores do que o próprio Grêmio. Seguido disto, tem ainda o apadrinhamento de amigos e conhecidos para comandarem áreas do clube no qual não têm a mínima experiência, resultando em decisões erradas, e passionalidade exagerada ao ponto de fazerem contratos minguados com cláusulas de recisão irreais "por gratidão".

Que fique claro, ninguém discute que assumir uma função importante de um clube do tamanho do Grêmio sem ganhar nada (ou ser um "abnegado" como adoram falar) é, de certa forma, um ato de altruísmo. Porém, não se pode confundir Gremismo com capacidade, pois são duas coisas distintas. Sem contar que eventuais insucessos são um prato cheio para os politiqueiros destilarem seu veneno secando o trabalho dos outros. E lá ao fundo, vendo todo este entreveiro, estão os torcedores comuns como nós esperando que o Grêmio não saia prejudicado desta guerra de vaidades.

Cinco anos depois, eu espero poder ver o Grêmio voltando a conquistar títulos importantes. A volta de Renato pode ser o prelúdio de uma nova era de vitórias. Mais do que trazer de volta a competência do time e a auto estima da torcida, parece que Saint Portaluppi está trazendo consigo a sorte que acompanha os campeões para o lado de dentro dos portões do Olímpico.

Porém, só isto não basta enquanto não tivermos uma administração profissionalizada e capacitada e enquanto os políticos letrados do clube não se convencerem de que devem pensar na melhoria contínua do Grêmio e não em seus interesses de auto promoção.

E que a epopeia findada no dia 26/11/2005 seja apenas lembrada, e não repetida...