Ironias da vida

28/11/1995
Eram 8 horas da manhã. Após acompanhar todos os jogos da vitoriosa campanha do BI da América, esqueci que havia aula e fiquei grudado à frente da TV. Vestindo o manto sagrado e segurando outro na mão, esqueci que o mundo existia a minha volta.

Em campo, do lado adversário, ninguém mais, ninguém menos que o poderosíssimo Ajax Amsterdam, Campeão invicto da Champions League 94/95. Não bastasse isso, o time era a base da KNVB, a Seleção Holandesa com nomes como Van der Saar, Litmanen, Overmars, os irmãos de Boer, Davids e Kluivert entre outros. Logo, não bastasse ser um clube holandês, era um TIMAÇO*.

O que eu vi foram 11 guerreiros Tricolores segurarem o ímpeto daquela Seleção em campo durante 90 minutos, mais a prorrogação. 0x0 nos 120 minutos, hora dos penais. Perdemos. 4x3. Choro, prostração e, por que não, orgulho. Afinal de contas, já tínhamos ganho do Hamburgo em 1983 que à época era uma potência europeia que ganhara da poderosa Juventus de Turim com Platini e tudo antes de sucumbir aos pés de Saint Portaluppi. Já agora, tínhamos lutado bravamente e enfrentado de igual para igual o ótimo time holandês*. Mas pênaltis, assim como a vida, é uma caixinha de surpresas.

Me lembro que os habitantes do aterro compraram tubos e mais tubos de deseinfetante Ajax (homônimo do time) para exibir nas ruas, compraram camisetas do clube nederlandse de balaio, além de fazerem um uniforme reserva para 1996 praticamente igual àquele utilizado contra o Grêmio em Tóquio.

14/12/2010
O time co irmão habitante do litoral lacustre porto alegrense sagra-se bi campeão da LA. Muito mais pelo fraco nível técnico dos adversários e dos atrapalhados hinchas do Estudiantes que acendem sinalizadores contra seu próprio gol, do que por méritos próprios. Vá lá, a taça foi pro armário. Asseguram o direito de ir para o mundial de clubes "PHIPHA" am Abu Dhabi nos EAU.

Voltados para o mundial, torcedores lacustres inflam-se com a então "possibilidade iminente" de serem bi campeões do mundo, ante a Internazionale de Milão que, após a saída de Mourinho, vem claudicante ao torneio. Muitos gastam um dinheiro que não têm comprando pacotes de viagens para os EAU. Como se não bastasse, compram turbantes, vestimentas árabes e tripudiam sobre o irmão mais velho e famoso que a recém garantira o direito de voltar a La Copa. Descobrem que seu adversário nas semi finais era um time africano, um tal Mazembe que quase ninguém conhecia. Antes da partida contra o co irmão, até nosso Twitter tinha mais seguidores do que a conta oficial do clube congolês.

O que me lembro - e, por sinal, me impede de parar de rir - é de ver a derrota acachapante sofrida pelo co irmão por parte deste time até então desconhecido. O que torna ainda mais vexatória esta despedida é o fato de o time africano ter vindo desfalcado de seu principal jogador. Resultado: Mazembe 2x0 co irmão. Pela primeira vez um time sul americano não disputará a final do mundial.

Conclusão
Infelizmente, vida de Gremista não é fácil pois era fácil na época encontrar uma camiseta do Ajax. Tente achar uma do Mazembe agora. Se achar, me avise.

Mais do que isto, fizeram uma emissora gastar perto de R$ 2 milhões para colocar uma infraestrutura que "nunca antes na história deste país" tinha sido vista para ser utilizada em sua totalidade por apenas 90 minutos. Não 120 minutos, muito menos cobranças de penais.

Depois de tudo isso, vale a pena lembrar que o sonho colorado em Abu Dhabi continua. Afinal de contas, ainda se tem pelo menos 11 parcelas do carnê da CVC para pagar a indiada...

* a exaltação à nação holandesa vem do nome mesmo pois "de Brum" é a forma aportuguesada de "Van der Brujn", sobrenome holandês. Logo, minha admiração pela nação dos filhos da casa de Oranje não é mera coincidência.

PS: fui obrigado a dar uma pausa nas férias para comentar tal fato. :)